quinta-feira, 10 de novembro de 2016

António Gedeão / Rómulo de Carvalho, o autor do mês de novembro

Faria 110 anos neste mês de novembro o escritor Rómulo de Carvalho, que usou como poeta o pseudónimo de António Gedeão. Aqui fica, para quem quiser saber mais sobre esta figura ímpar da nossa literatura, alguma informação. Está na Biblioteca Escolar da sede uma pequena exposição de livros e poemas da sua autoria.
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu a 24 de novembro de 1906 em Lisboa. Aí cresceu, no seio de um ambiente familiar tranquilo, profundamente marcado pela figura materna, cuja influência foi decisiva para a sua vida. A sua mãe, apesar de apenas ter a instrução primária, tinha como grande paixão a literatura, sentimento que transmitiu ao filho. É ela que inicia o filho na arte das palavras. E no contacto com os mestres - Camões, Eça, Camilo e Cesário Verde, o seu preferido. Criança precoce, aos 5 anos escreve os primeiros poemas e aos 10 decide completar Os Lusíadas de Camões. No entanto, a par desta inclinação para as letras, quando, ao entrar para o liceu Gil Vicente, toma pela primeira vez contacto com as ciências, desperta nele um novo interesse, que se vai intensificando com o passar dos anos e se torna predominante no seu último ano de liceu.
Este factor será decisivo para a escolha do caminho a tomar na Universidade, pois, embora a escrita o acompanhasse sempre, não era a melhor escolha para uma pessoa extremamente prática e atraída pelo lado experimental das ciências. Assim, enquanto Rómulo de Carvalho estuda Física e Química na Faculdade de Ciências do Porto, a poesia fica guardada para quando, mais tarde, surgir o pseudónimo de António Gedeão.
Em 1932, um ano depois de se licenciar, forma-se em Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras do Porto e começa a sua longa carreira como professor. Para Rómulo de Carvalho ensinar era uma paixão. Além da colaboração como co-diretor da Gazeta de Física a partir de 1946, concentra os seus esforços no ensino, dedicando-se à elaboração de compêndios escolares e à difusão científica através da coleção “Ciência Para Gente Nova” e muitos outros títulos, entre os quais Física para o povo.
Apesar da intensa atividade científica, Rómulo de Carvalho não esquece a arte das palavras e continua a escrever poesia, sem a publicar de imediato. Só em 1956, após ter participado num concurso de poesia de que tomou conhecimento no jornal, publica, aos 50 anos, o primeiro livro de poemas: Movimento perpétuo. O livro é bem recebido pela crítica e António Gedeão continua a publicar poesia, teatro, ensaio e ficção.
A poesia de Gedeão marca uma geração reprimida pela ditadura e atormentada pela guerra, que se sentia profundamente tocada pelos valores expressos pelo poeta e se acreditava que, através do sonho, era possível encontrar o caminho da liberdade. Rómulo de Carvalho, após 40 anos de ensino, decide reformar-se em 1974. Exigente e rigoroso, não se conforma com a situação de caos que se instalara no ensino. Nessa altura é convidado para lecionar na Universidade, mas rejeita o convite. Dedica-se por inteiro à investigação, publicando numerosos livros, tanto de divulgação científica, como de história da ciência. Gedeão também continua a sonhar, mas o fim aproxima-se e o desejo de morrer determina, em 1984, a publicação de Poemas Póstumos. Faleceu no dia 19 de fevereiro de 1997.