"O beijo da palavrinha" de Mia Couto dado por Guilherme Aguiar

Há dias em que a escola se reencontra com a sua verdadeira vocação e com a função ainda mágica da aprendizagem, presenteando-nos com a riqueza dos seus frutos e a grandeza dos seus resultados. Hoje foi dia de vermos isso acontecer em 15 breves mas intensíssimos minutos que nos foram oferecidos pelo nosso aluno Guilherme Aguiar. O beijo da palavrinha de Mia Couto é uma daquelas obras enganadoramente rotuladas como infantis, com o que este adjetivo consegue às vezes significar de menos positivo: histórias levezinhas, simples, com pouca densidade, para entreter os mais pequenos. A literatura infantil é, porém, feita de objetos que raramente correspondem a essa definição, estando a ela associados alguns dos textos mais difíceis, significativos, enigmáticos e inesgotáveis da literatura universal. Basta pensar em Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll ou Pinocchio de Collodi. O beijo da palavrinha pode inscrever-se neste filão. O que ali acontece e está escrito só aparentemente é simples e fácil... Quem hoje esteve no auditório da escola-sede teve a sorte de contar com um guia excepcional para explorar a profunda riqueza dos significados deste livro. O trabalho de representação do Guilherme Aguiar, que nos enche de espanto e orgulho, desvenda-nos a mensagem mais forte do texto e coloca perante os nossos olhos a força das palavras, a capacidade que as palavras têm para serem mais tocantes do que as próprias coisas que elas nomeiam, mesmo quando essas coisas têm o tamanho do mar. A entrega do Guilherme ao palco e à história fez-nos chegar esse mistério e, por momentos, todos fomos transportados para o espaço alternativo das letras e das coisas que elas encerram.
Foi muito bom e muito bonito. Nem sempre a escola nos consegue reconfortar com dias destes. Quando acontecem, todos ficamos a sentir que ainda há razões para fazermos o que fazemos e para valorizarmos o que valorizamos. Obrigado, Guilherme.


 

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